Aconteceu no dia 12 de
agosto de 2013, nas dependências da Escola Básica Municipal Alexandre Pfeiffer,
a exposição das obras: “Mitologia Marinha” de Franklin Cascaes, promovida pelo
SESC/SBS em parceria com esta Unidade. Para essa exposição contamos com a
mediação e a intervenção da Professora de Artes, Silene Xavier Rosa de Sousa,
que com dedicação e competência conduziu os trabalhos deste grande artista
catarinense em nossa Escola.
É através dos traços e das
linhas de Franklin Joaquim Cascaes que o descobrimos, um homem apaixonado pela
poética Ilha de Santa Catarina. Nasceu no dia 16 de outubro de 1908 em
Itaguaçu. Com sua morte, em 1983, nossa sociedade perde um de seus mais criativos
artistas populares.
Sua obra
possui um caráter sui generis, pois Cascaes pode ser caracterizado tanto
como um pesquisador das coisas da terra, um “registrador cultural”,
comprometido com o seu mundo e o seu tempo.
No
conjunto, a sua obra – esculturas, desenhos e registros escritos – expressa
preocupação relacionada às conseqüências trazidas pela “Madame Modernidade”,
que com o seu lado avassalador, ameaçava transformar o cotidiano daquelas
comunidades que ele tanto conhecia e amava. Era uma ameaça, segundo seu ponto
de vista, para com as coisas do passado, com a tradição.
Cascaes
vivencia na sua obra, as práticas culturais de seu tempo, além de registrar
suas lembranças desde criança sobre as histórias, algumas fantásticas, descreve
costumes da época, como o de trabalhadores que ganhavam por jornada de serviço
prestado, os quais eram denominados “jornaleiros”.
As
conversas dos jornaleiros abrangiam não só o mundo conhecido, como as
receitas culinárias e as cantorias de
trabalho, mas enveredavam rumo ao mundo sobrenatural e fantástico, como
personagens como o curupira, boitatás e bruxas.
É na
infância que demonstra aptidão no manejo da cerâmica, com a elaboração de
pequenos bonecos. O desejo de ser artista é despertado na adolescência.
Por volta de
1953, na Semana Santa, ao esculpir figuras bíblicas nas areias das suas tão
encantadas praias, é que seu talento é reconhecido pelo Diretor da Escola
Industrial, Cid Rocha Amaral.
Com o
passar dos anos crescia seu desejo de retratar todas as experiências de sua
infância. Em 1946, já casado com Elizabeth Pavan Cascaes, o artista inicia seu
trabalho de recopilação das coisas da nossa cultura, contanto sempre com a
presença de sua esposa que segundo ele o auxiliava o quanto pode.
Os
materiais utilizados na sua obra foram distintos, folhas avulsas, blocos e
cadernos de anotações, onde elaborava seus desenhos que ora retratavam os
motivos pesquisados, produzidos a grafite, esferográfica ou mesmo manquim. Tais
registros também eram configurados em argila ou gesso.
Quanto aos
desenhos, estes partiam de estudos quase sempre o grafite, permitindo hoje
conhecer a gênese de uma obra, as etapas implicadas neste processo.
Os temas
abordados por Cascaes são tão diversos, tratando de questões cotidianas que
dizem respeito à sobrevivência das pequenas comunidades, como os registros das
farinhadas, pescarias e receitas culinárias, até temas transcendentais, de
natureza profundamente religiosa ou de ordem mitológica, como as procissões ou
os causos de embruxamento.
Sobre
Franklin Joaquim Cascaes muito se tem falado sem, no entanto, existir um
consenso. Ora o chamam de artista, ora de pesquisador ou de cientista, ou
organizador de nossa cultura popular. Alguns o tratam como um mito, um bruxo ou
um folclorista. Para nós o adequado é trata-lo como sintetizador de uma
cultura, que vivenciou e registrou de maneira ímpar.
Esta exposição promovida pelo SESC é uma
relevante ação cultural, com abrangência estadual, tendo em vista sua
itinerância pelo Estado de Santa Catarina. Oportuniza ao Museu Universitário
Professor Oswaldo Rodrigues Cabral da Universidade Federal de Santa Catarina
levar à sociedade catarinense parte do seu patrimônio cultural.
A Coleção
“Professora Elizabeth Pavan Cascaes” foi doada em vida pelo artista, no ano de
1981. O Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral desde então tem
sob sua responsabilidade a guarda e preservação deste acervo.
Quanto
à apreciação estética desta exposição, permite que sejamos arrebatados por um
mundo mágico e surreal, habitados por seres risonhos que uma vez mais revelam o
homem, vinculado à natureza, singelo e preocupado com o “planeta terráqueo”
como Franklin Joaquim Cascaes costumava chamar o planeta terra.